Fortaleza mira futuro como polo global de tecnologia, mas ainda enfrenta entraves estruturais

Capital cearense reúne condições únicas para liderar a transformação digital no Brasil
Maquete digital do Scala Data Centers
Fortaleza atrai investimentos bilionários, como o da empresa Scala Data Centers. Foto: Scala Data Centers/Divulgação

Fortaleza já recebe 17 cabos submarinos e atrai investimentos bilionários em data centers. Apesar do potencial, ainda carece de estrutura institucional robusta para inovação, como a falta de uma secretaria municipal para a área. Especialistas cobram políticas públicas mais integradas e articulação com universidades.

Fortaleza já é um dos principais nós de conectividade do planeta. A capital cearense recebe atualmente 17 cabos submarinos de fibra óptica que ligam o Brasil diretamente à África, Europa, Caribe e Estados Unidos, garantindo altíssima capacidade de tráfego de dados e latência reduzida — ativos essenciais para a instalação de data centers e para o funcionamento de tecnologias avançadas como inteligência artificial, 5G e aplicações em nuvem.

O cenário atrai investimentos bilionários, como o da empresa Scala Data Centers, que ergue na Praia do Futuro uma instalação com capacidade de 30 megawatts, voltada a gigantes como Amazon, Google, Meta e Microsoft.

Apesar dessa infraestrutura de peso e de iniciativas pontuais, como a Política Municipal de Inovação (InovaFor), especialistas avaliam que Fortaleza ainda não aproveita todo o seu potencial para se firmar como um verdadeiro polo tecnológico global.

Apesar de uma legislação específica, a execução dessas políticas parece ainda não ter o status ideal para seu desenvolvimento. O município carece, por exemplo, de uma secretaria própria de Ciência, Tecnologia e Inovação — estrutura já adotada por cidades vizinhas, como Caucaia. A cidade da Região Metropolitana de Fortaleza em investido em políticas voltadas à economia digital. notadamente com o Complexo Industrial e Portuário do Pecém alcançando parte de seu território, do qual a Zona de Processamento de Exportação (ZPE) Ceará faz parte.

“Eu vejo aqui em Fortaleza uma grande oportunidade com o prefeito Evandro. Mas é uma pena que a tecnologia não tenha sido ainda contemplada como deveria”, opina Machidovel Trigueiro Filho, presidente da Comissão de Data Centers e Cidades Inteligentes da OAB-CE e atual secretário de Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico de Caucaia. “Tem o Citinova, que é uma fundação, e agora assumiu o George Lima. Vamos esperar que ele construa um trabalho interessante. Sinto falta dessa articulação maior, dessa visão de futuro que estamos desenvolvendo com força em Caucaia”, pontua.

Avanços, entraves e potencial

Sem uma secretaria específica em Fortaleza, políticas públicas de inivação e tecnologia ficam sob responsabilidade da Fundação de Ciência, Tecnologia e Inovação de Fortaleza (Citinova), vinculada à administração municipal. Embora a fundação tenha sido responsável por importantes iniciativas nos últimos anos, como o InovaFor, sua estrutura ainda é considerada limitada diante da complexidade e velocidade que a transformação digital exige.

O InovaFor, aprovado em 2023, prevê estímulos à criação de startups, contratação de soluções inovadoras pela prefeitura e abertura de “sandbox regulatórios” — ambientes de teste para novas tecnologias. Também há incentivos fiscais, como a redução da alíquota de ISS para empresas de tecnologia da informação que elevarem sua arrecadação.

Uma estratégia a ser desenvolvida, aponta Trigueiro, é uma articulação estratégica com instituições de pesquisa e ensino superior, como ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) — prestes a inaugurar um campus em Fortaleza, Universidade Federal do Ceará (UFC) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Essas parcerias, aponta o advogado, são fundamentais para um verdadeiro ecossistema de inovação na Capital. “O momento é de pensar em tecnologia, inovação, parceria. Fazer a coisa andar”, reforça.

A reportagem procurou a Prefeitura de Fortaleza questionando quais as iniciativas para desenvolvimento e fomento em tecnologia estão em andamento. Também perguntamos, no contexto dos cabos submarinos, se a Citinova, enquanto fundação, consegue executar políticas de inovação tecnológica, já que não existe uma secretaria específica. Contudo, não houve resposta. O espaço segue aberto.

Novo cabo da Meta pode ser ancorado em Fortaleza

Um novo elemento que pode alavancar ainda mais o protagonismo digital de Fortaleza é a possibilidade de a Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp) ancorar na cidade um dos pontos do cabo submarino Waterworth, que promete ser o maior do mundo.

A informação foi divulgada por portais de tecnologia e confirmada por fontes locais, embora a Meta ainda não tenha oficializado a instalação junto à Anatel. Se confirmada, a ancoragem ampliaria ainda mais a atratividade da capital cearense para operações de altíssimo desempenho em nuvem e IA. A expectativa, segundo uma fonte, é de que o cabo chegue ao Brasil em 2026.

Caminhos para consolidar o protagonismo

Fortaleza reúne os ingredientes centrais para se posicionar entre os principais polos tecnológicos do mundo: localização geográfica estratégica, excelente conectividade global, interesse de grandes players e um mercado promissor em expansão. Segundo especialistas, aliar esses pontos a um plano municipal coordenado e com estrutura institucional dedicada à inovação — algo que vá além de ações isoladas e se traduza em políticas públicas de longo prazo, é fundamental.

Aproveitar essas oportunidades, destaca Trigueiro, permite a atração de investimento e a geração de empregos qualificados, além de impulsionar a economia e melhorar a qualidade de vida da população.

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