Por que Elmano indicou Herbet Santos para o cargo de PGJ

Combate ao crime organizado e cálculos políticos pesaram na decisão de não reconduzir o mais votado da lista tríplice
Sede da Procuradoria-geral de Justiça do Ceará
Sede da Procuradoria-geral de Justiça do Ceará. Foto: Divulgação/MPCE

A indicação de Herbet Gonçalves Santos para a Procuradoria-Geral de Justiça foi resultado de uma decisão política tomada no limite do prazo legal por Elmano de Freitas. Pesaram o perfil ligado ao combate ao crime organizado, o trânsito político do indicado e a influência institucional de sua família no Judiciário. A escolha também gerou desconforto nos bastidores do TJCE, por reforçar disputas internas e sinalizar rearranjos de poder para os próximos anos.

A nomeação do promotor de Justiça Herbet Gonçalves Santos para o comando do Ministério Público do Ceará (MPCE) no biênio 2026–2027 não foi apenas uma escolha administrativa. Foi um gesto político calculado, feito no limite do prazo legal, que reordena forças institucionais no Estado e projeta efeitos diretos sobre a relação entre Executivo, Ministério Público e Judiciário.

Herbet ficou em segundo lugar na votação interna da lista tríplice, com 204 votos, atrás do atual procurador-geral Haley de Carvalho, que obteve 307 votos. Ainda assim, o governador Elmano de Freitas optou por não reconduzir o mais votado, e isso a poucas horas do fim do prazo legal, evitando a investidura automática prevista na Lei Orgânica do MP.

Uma escolha de última hora e o cálculo político

A decisão apenas nos momentos finais se explica pela delicadeza da escolha. Elmano se viu diante de um dilema institucional: reconduzir Haley significaria manter o grupo que há anos comanda o MPCE; deixar o prazo expirar levaria à recondução automática, o que seria interpretado como omissão política; escolher Herbet, por sua vez, representava uma mudança clara de eixo.

A opção pelo segundo colocado foi lida como uma decisão ativa, e não circunstancial. Elmano assumiu o ônus político de interferir no tabuleiro institucional, sinalizando que deseja um Ministério Público com perfil mais alinhado ao enfrentamento direto do crime organizado, tema central da agenda estadual.

O fator combate ao crime organizado

Herbet Gonçalves construiu sua trajetória no Ministério Público com atuação voltada ao combate às organizações criminosas, especialmente em investigações sensíveis. Esse histórico pesou na escolha.

No Palácio da Abolição, a avaliação é de que o próximo biênio exigirá um MP mais incisivo, com capacidade de dialogar com forças de segurança, enfrentar facções e sustentar investigações complexas em um contexto de pressão social por resultados.

A nomeação, portanto, atende também a uma expectativa de reforço institucional na área criminal. A Segurança Pública é uma das maiores preocupações da população cearense. E em 2026, não custa reforçar, temos eleições para governador.

O peso das relações familiares e institucionais

A indicação de Herbet, no entanto, não se resume ao currículo funcional. Ela carrega um peso político-institucional relevante.

O novo PGJ é filho do desembargador Raimundo Nonato Silva Santos e sobrinho do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Teodoro Silva Santos. Ambos são figuras de grande influência no Judiciário.

Esse fator, claro, entrou no cálculo político. Herbet transita com facilidade entre diferentes núcleos de poder e mantém interlocução com setores do PT, partido do governador, incluindo nomes de peso como o ministro da Educação, Camilo Santana.

Repercussão da escolha no Tribunal de Justiça do Ceará

Nos bastidores da cúpula do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), a nomeação não foi bem recebida por alguns nomes, ainda que fosse esperada. A leitura predominante é que a escolha reforça a percepção de que Raimundo Nonato e Teodoro Silva Santos exercem hoje forte influência no governo estadual.

Esse movimento gera desconforto especialmente para o atual presidente do TJCE, desembargador Heráclito Vieira de Sousa Neto.

Raimundo Nonato disputou a presidência do TJCE no fim de 2024, em uma das eleições mais acirradas da Corte. O resultado, 32 votos para Heráclito e 19 para Nonato, revelou um racha incomum no Tribunal.

A indicação de Herbet, nesse contexto, é vista como um fortalecimento indireto do grupo que orbitou a candidatura derrotada, o que projeta tensões para o futuro. Em 2026, o TJCE voltará a passar por novo processo eleitoral interno.

Além disso, o desembargador também presidiu o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) nas eleições do ano passado.

Um novo eixo institucional em formação

Ao nomear Herbet Santos, Elmano envia sinais ao MP: de que deseja mudança de perfil; ao Judiciário: de que reconhece a influência de determinados grupos; e à classe política: de que está disposto a assumir riscos institucionais para moldar o ambiente de poder no Estado.

O novo PGJ assume em um período sensível: ano eleitoral, avanço do crime organizado e crescente cobrança por resultados do sistema de Justiça. Mais do que uma troca de nomes, a escolha redesenha alianças e inaugura uma nova fase na relação entre os Poderes no Ceará.

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