O avanço dos data centers no Ceará não deve se limitar à ocupação de grandes áreas e ao consumo intensivo de energia. Em Caucaia, município que desponta como um dos principais destinos desses investimentos bilionários, a estratégia do poder público é usar a infraestrutura digital como alavanca para inovação, geração de empregos qualificados e fortalecimento da economia local.
Segundo o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação de Caucaia, Machidovel Trigueiro Filho, o planejamento municipal busca evitar que a cidade se torne apenas um polo físico de data centers, sem internalizar tecnologia e valor agregado.
“A estratégia pensada para Caucaia é construir polos de inovação na cidade pela atratividade dos data centers como uma âncora, não um fim”, afirma.
Infraestrutura sem impacto nos serviços essenciais
Um dos principais desafios é garantir que a chegada de empreendimentos de grande porte não comprometa serviços básicos da população. De acordo com Machidovel, a preparação envolve planejamento integrado e reforço prévio da infraestrutura urbana e energética.
“Caucaia está se preparando com planejamento integrado, para que a chegada de data centers não ‘puxe o cobertor’ dos serviços essenciais”, explica.
Ele detalha que isso passa por obras de reforço e redundância elétrica, exigência de soluções de eficiência energética e alinhamento do licenciamento ambiental à capacidade real de água, mobilidade e drenagem do município.
“A regra é simples: seria uma expansão com resiliência, sem comprometer o que já atende a população.”
Contrapartidas econômicas e sociais
Além da infraestrutura, a gestão municipal pretende condicionar os investimentos a contrapartidas claras. O foco está em empregos, qualificação profissional, arrecadação e retorno social.
“O município busca contrapartidas objetivas e mensuráveis”, diz o secretário.
Entre as exigências, estão compromissos de contratação local em diferentes fases do projeto, programas de formação técnica em áreas como TI, elétrica, refrigeração e redes, além da atração de fornecedores e prestadores de serviços para a cidade.
“A ideia é estimular a cadeia local, a formalização e garantir retorno social direto, como investimentos em inclusão digital e apoio a iniciativas de tecnologia aplicada aos serviços municipais.”
Data centers como âncora, não como fim
Para evitar um modelo limitado à locação de espaço e energia, Caucaia aposta na criação de um ecossistema de inovação conectado à presença dos data centers.
“O objetivo é que a computação, talentos e empresas fiquem na nossa cidade, e não apenas racks de computadores como espaços de locação”, afirma Machidovel.
O plano inclui a implantação de ambientes de inovação com governança própria, parcerias com universidades e centros de pesquisa, atração de startups e empresas de software, além do uso da infraestrutura digital em projetos de cidade inteligente.
A proposta é transformar o município em um polo que concentre não apenas servidores, mas também conhecimento, pesquisa e soluções tecnológicas com impacto direto na vida da população.
Nesse modelo, Caucaia tenta se posicionar não apenas como território estratégico da nova economia digital, mas como protagonista na construção de um ciclo sustentável de desenvolvimento baseado em tecnologia, inovação e inclusão.
